Durante meu período de Internato Rural de Medicina de Família, vivenciei experiências que marcaram minha formação profissional. Atendi a uma variedade impressionante de doenças, aproveitando para refinar meus conhecimentos no manejo das patologias mais prevalentes na comunidade. Além disso, entrar em contato com um professor novo significa muito mais do que apenas aprender sobre protocolos e diretrizes; significa entender um pouquinho sobre a maneira como cada profissional lida com a medicina. Analisar o olhar, a expertise e o feeling clínico é observar um retrato da experiência acumulada por uma vida inteira de atuação clínica, ponto que acredito ser de maior valia para uma pessoa em minha posição como estudante.
Realizei, também, duas suturas: um pequeno corte na mão e um ferimento mais complexo na face, aprimorando minha técnica e desenvolvendo uma habilidade que só a prática contínua pode proporcionar.
Esses atendimentos me permitiram entender melhor os desafios de saúde enfrentados pela população rural, bem como a dinâmica complexa e interligada que a equipe de saúde deve ter para atender de forma ideal uma grande área de pessoas. Caso contrário, uma abordagem ampla e personalizada à região acaba sendo apenas teórica.
Em meio ao meu período de Internato Rural, a região acabou sendo assolada por severas enchentes, que trouxeram inúmeros desafios para a comunidade e para os serviços de saúde. As estradas alagadas e os desmoronamentos fizeram com que um deslocamento entre a UBS e Caxias do Sul, que durava em torno de 55 minutos, avançasse para a incrível marca de 2 horas e 20 minutos. Mas, em proveito desses percalços, deu para avaliar de perto as dificuldades que tanto os médicos quanto os demais integrantes das equipes de saúde enfrentam em situações como essas para conseguir atender seus pacientes.
Outra experiência enriquecedora foram as viagens para reconhecimento do território demarcado pela UBS. Esses deslocamentos revelaram as condições de vida dos moradores e as particularidades de cada região, ampliando minha percepção sobre os determinantes de saúde baseados no local, sobre possíveis doenças relacionadas com o território e vegetação circundante. Um caso interessante, para exemplificar, foi o de um paciente atendido por mim que havia entrado em contato com uma planta local chamada Aroeira, apresentando reações urticariformes típicas, ressaltando a importância do conhecimento da vegetação e biodiversidade a que nossa comunidade está intimamente exposta.
Os passeios e interações tornam cada contato uma oportunidade de criar vínculos com a comunidade, ouvir suas histórias e necessidades, e sentir-se parte de algo maior. Essa imersão total na realidade local foi fundamental para meu crescimento pessoal e profissional, reforçando a importância de uma medicina humana e próxima das pessoas.