sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Breves relatos poéticos - Mayara Floss, junho 2017

Dia de Targa

Música clássica de trilha sonora nas curvas da estrada. Costurando com as histórias dos pacientes “Trabalho vazando sapato” a vida equilibrada em conta gotas. “O colesterol pode ser apenas uma pista de que talvez você tenha uma doença no futuro” Um movimento rápido procurando a câmera no banco de trás do carro, procurando a coruja para fotografar para o Wikiaves. A “Terapia do joelhaço” ou confrontamento paradoxal opositor em brincadeira com a psicóloga. Em meio a delicada produção de cogumelos, “fiz até um curso para isso”, as histórias dos pacientes: “Quero me matar com uma faca” e as reflexões políticas. “Esse é o problema: quando o SUS é complementar ao privado”. O poder da intervenção medicamentosa, o especialista é como um bispo na idade média. “O que você tem para fazer? Tomo chimarrão, o dia todo, com leite para não me sentir sozinha”. Prontuário eletrônico ou de papel? “Esses conselhos de vó de gripe”. Reunião de equipe: “Eu sou o jardineiro e nas horas vagas médico de família. Também filósofo de meia tigela”. “Às vezes tenho azia, mas só quando como cuca de chocolate”. “Está triste, é mais disso (apontado para o pé) ou tem mais coisa misturada?”. “Meu açude transbordou e fiquei muito tempo no molhado”. “A tua filha tá com o olho vermelho, mas você também está com o olho vermelho”. “Ah mas isso é de costurar, no final do dia tá pior”. A unidade com chão de madeira da antiga escola, que range ao encontro dos sapatos, que se equilibra entre o moderno e a história da comunidade. “Tief luft“ (respire fundo). “Isso que é o bom de medicina de família, não vimos nada parecido durante todo o dia”. “No verão é muito mais trabalho no campo, muito mais acidentes”. “É impossível você preparar o pasto cuidando da postura, fui fazer isso, o máximo é colocar a luva na mão esquerda”. Quando fazem os agricultores deixarem a enxada para ir caminhar, porque capinar “não é exercício físico”. Um Lada Niva amarelo desponta nos olhos na cidade grande. “Tem dias que a nossa qualidade de vida vai para o espaço”. Boina na cabeça, boina jogada no painel do carro, na cabeça de novo. Este é o ritmo de conhecer os pacientes, as histórias, o trabalho, o dia-a-dia de cada um.


Exame físico neurológico Rural

O médico vai avaliar a força das mãos do paciente e pede colocando os próprios dedos indicador e médio nas palmas das mãos do sujeito:
- Faz como se fosse tirar leite de vaca.


Interior

Desponta o carro na curva e vem na direção do caminhante. Abre um pouco mais o vidro para falar:
- Doutor, tá caminhando na estrada de chão batido, não quer uma carona?
- Não, quero caminhar mesmo, me exercitar.
Em alguns minutos vem um trator:
- Doutor, não quer uma carona?
- Não, quero caminhar mesmo, me exercitar.
Depois uma picape, depois uma bicicleta, um cavalo, outro carro. “Cansei de caminhar de tantas paradas para convite para carona”.

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