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Durante o período de meu estágio optativo, durante o mês de junho 2009, na cidade de Nova Petrópolis, pude vivenciar a prática da Estratégia Saúde da Família (ESF), no âmbito rural, em três das seis unidades de saúde lá estruturadas. Essa experiência veio de encontro à atividade curricular desenvolvida no Programa Residência Medicina de Família e Comunidade (RMFC– GHC) cujo objetivo é a elaboração de um projeto de implantação da Estratégia de Saúde da Família em uma localidade próxima à Porto Alegre, e, com menos de 10.000 habitantes.
Constatei a adequação de cada equipe no seu território, de acordo com a demanda, com o gestor e com o apoio da rede de saúde local.
Cabe ressaltar, em especial, a Unidade de Saúde de Pinhal Alto, onde o MFC Leonardo Vieira Targa é o médico da equipe. Essa unidade, afastada do centro da cidade de Nova Petrópolis, tem parte de seu acesso ainda por estrada de chão, apesar de o asfaltamento ser reivindicação antiga da população local junto ao gestor.
A comunidade de Pinhal Alto tem peculiaridades próprias, como, por exemplo, uma “língua local”, que se mantém de pai para filho, sendo necessário algumas vezes os filhos acompanharem as consultas como tradutores/intérpretes. Também mantém o ritual do repicar contínuo do sino da igreja para anunciar a morte de um morador. A igreja e o cemitério, na rua central, em frente à unidade de saúde.
A manufatura caseira de produtos alimentícios (por exemplo, os embutidos, as geléias, as cucas) e uma dieta própria de área rural instigam a criatividade para a orientação dietética adequada e salutar.
O trabalho nas lavouras, favorecendo o contato com os agrotóxicos e as conseqüências disso, os acidentes com animais peçonhentos, além das fraturas, cortes por moto-serra, corpos estranhos oculares por fragmentos da lenha cortada fazem parte desse cotidiano.
Os papéis consolidados na estruturação familiar e os valores culturais próprios quanto à etnia, também podem ser identificados nessa comunidade.
Acompanhando a rotina diária da equipe, observei a legitimidade de algumas características da APS, como a integralidade, a continuidade e a coordenação do cuidado, que a equipe construiu apropriando-se das peculiaridades locais e compatibilizando-as com os saberes científicos e tecnológicos de ponta, de forma coerente, resolutiva e adequada com os recursos disponíveis. Para isso, por exemplo, foram desenvolvidas atividades coletivas nas escolas, nas malharias, na fundição, nas madeireiras visando a promoção e a prevenção na saúde.
A supervisão das Agentes de Saúde, pelo MD Leonardo e pela Enfermeira Solange, semanalmente, é uma das prioridades da equipe. As Agentes de Saúde são o elo da equipe com a comunidade local, moram na micro-área pela qual são responsáveis e mantêm os dados pertinentes aos programas sempre atualizados independente das distâncias que necessitem percorrer, já que a população reside na zona rural.
A população local conta ainda com o atendimento, na unidade, feito por uma odontóloga e por uma nutricionista, em dias pré-estabelecidos durante a semana. Em Nova Petrópolis, o apoio matricial é disponibilizado pelo CAPS e pela Assistência Social com o atendimento individual ou em grupos para os usuários.
Pude, portanto, durante o meu estágio, convivendo com essa equipe de saúde, testemunhar a sua integração com a comunidade local, respeitando as peculiaridades, tanto culturais quanto geográficas do território, garantindo o fortalecimento da Atenção Básica no contexto mais amplo que é a família e a comunidade. Karin Luckow Eichler
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